Campeonato da Espanha
Para mim, o Campeonato da Espanha começou (e terminou) mal. Uma prova simples, de 54km, mas com uma baliza contra-vento que deixou uns tantos pilotos no chão no km 5. Do grupo de 5 que fez a baliza comigo, só se salvaram Xevi Bonet e um francês.
A estratégia da organização durante todo o campeonato foi definir "start points" longe da decolagem, que não abrigava, segundo diziam, os mais de 150 pilotos inscritos. No primeiro dia, só 42 pilotos chegam ao start (a 20km da decolagem) e 21 ao gol.
No segundo dia, começo a vislumbrar as dificuldades que seguiria tendo durante todo o campeonato. A prova de 93 km, com "start" no Pico de Almadén, ocorre em condições difíceis. Na montanha, as térmicas funcionam bem, mas na planície, que cobre a maior parte da prova, as térmicas são falhadas. Depois do "start", somos obrigados a voar quase 60 km com vento de través, enroscando em térmicas que, em geral, são metade ascendente, metade descendente. Voando 8 kg acima do peso máximo do Omega 7, tenho muita dificuldade para manter-me nas bolhas. Aliás, a visão do pelotão subindo nos "zerinhos", enquanto afundo, seria uma constante na competição. Nunca voei bem em térmica fraca, muito menos pesado.
Vôo a maior parte da prova sozinho. O vôo é longo, e alterno sentimentos de desistência e determinação. É um dia bonito, e pode-se ver toda a cordilheira de Sierra Nevada e o Pico de Veleta no horizonte. Não quero desperdiçar outra prova. Decidi que agora vou voar toda a competição, ao invés de adotar a estratégia do "tudo ou nada", como fiz no XCeará (com tristes conseqüências).
A 18 km e um planeio do gol, encontro-me com um amigo espanhol, Miguelón. Depois de mais de 4 horas de vôo, é o momento de ficar alto e garantir o planeio final. Mas decidimos apostar corrida. Tudo indica que temos altura para chegar. Porém, na camada de baixo o vento de vale (de través) é forte e nos deixa a 5 km do gol. Mais um erro por falta de observação e paciência. Só 5 pilotos completam a prova.
A prova do terceiro dia tem o "start" a 17,7 km da decolagem, quase sobre a cidade de Jaén. É um local em que subir é muito difícil. Voa-se em térmicas fracas e quase contra-vento. Novamente, vejo os pelotões subirem no "zerinho", enquanto afundo. 50 pilotos conseguem fazer o "start" e seguir. Muitos caem logo depois, 3 chegam ao gol. A maior parte dos outros 100 pilotos luta baixo sobre Jaén, onde não há pouso. Às margens da cidade (e em toda a região, uma das maiores produtoras de azeite de oliva do mundo), há um mar de oliveiras. Com sorte, pode-se evitar que metade da vela não toque nenhuma árvore ao aterrisar. Consigo chegar rastejando ao quintal de uma casa, onde pouso. O portão está fechado, e sou obrigado a pular uma cerca alta. O tênis, que fica preso entre as grades, impede que eu quebre um braço. Tenho, agora, um pé inchado e com hematomas, uma ferida feia no braço e um tênis rasgado.
A quarta prova repitiria o fatídico "start" do dia anterior. Meu drama é idêntico. Não sei, nem aprendo a subir em "zerinhos" - que horror! (O pé também dói ao acelerar). Minha alternativa é jogar-me baixo sobre uma ou outra pedra que poderia funcionar. Pouso com metade do parapente sobre uma oliveira, e, sob o sol escaldante, tem início o longo processo de retirada do velame. Com o pé ruim, demora ainda mais.
O quinto dia consiste numa prova de 75km. Uma das balizas é o Pico Almadén (o mais alto da zona), o que permite atingir bons tetos. Mas novamente mandam-nos para a maldita zona de Jaén. Só 22 pilotos conseguem fazer a baliza de Jaén e seguir. A maioria cai no que passo a chamar de "buraco negro". Quem está sobre a cidade, tem de se virar para pousar onde não há pouso. Os que tem mais sorte caem sobre as oliveiras. Dos 22 que passam, 15 chegam ao gol.
No último dia, a organização define uma prova (53 km) para que muitos pilotos cheguem ao gol (o que de fato ocorre). Decolo no entre-ciclo e pouso em menos de 5 minutos. Definitivamente, não é minha semana. É permitido decolar uma segunda vez, e subo correndo à rampa, de carona com outro piloto que aterrisa comigo. Na decolagem, ninguém quer sair, já que muitos pilotos caem e os que estão em vôo sobem com dificuldade. Saio com um pequeno grupo na primeira térmica que passa. Faço o start atrasado. Estou cansado e desanimado com meu desempenho. Depois de fazer a primeira baliza, são mais 30 km ao gol. Após uma semana subindo em térmicas falhadas, já estou convencido de que esta não é minha especialidade. Saio sozinho de um "zerinho" onde se mantém meu grupo. Já antecipo meu destino. Daí vou direto ao chão, e adeus a Pegalajar.
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