Wednesday, July 22, 2015

Rampa de Jaraguá recobra recorde do Centro-Oeste (300 km)


Quase um ano após meu acidente, em que fraturei a L1 e estraçalhei meu calcâneo em vários fragmentos, numa pane a baixa altura seguida de lançamento de reserva, caiu o recorde do Centro-Oeste. Que na verdade não é meu, mas do Samuel Nascimento, o cão farejador de térmicas. Pousei no km 299,2, tendo voado 1,6 km a menos do que ele, que não só puxou a quase totalidade do voo, mas me esperou em vários momentos. Exemplo de parceria.

Mas estou feliz. Precisava desse voo para seguir no processo de recuperação de confiança que se seguiu ao acidente.

Voltei a voar somente em maio, mais de duzentos dias depois do fatídico 11 de setembro de 2014. E voltei com medo, sempre achando que a casa voltaria a cair a qualquer momento, sobretudo quando ficava baixo. Ainda não me livrei totalmente do medo, mas resolvi encará-lo.

Pensei em parar de voar e voltar para o surfe. Por ironia do destino, operaram mal meu pé, e não posso mais surfar, só voar. Mais de 300 dias após a cirurgia, ainda manco e perdi movimento articular no tornozelo pelo resto da vida.

Na quinta-feira antes do voo, já sabia que o sábado seria um dia especial. O Samuel estava em Jaraguá para dar uma palestra no Encontro Nacional de Pilotos e Instrutores da Associação Brasileira de Voo Livre e só planejava voar para valer na semana seguinte com a equipe. Mas plantei a semente, e decidimos voar.

Decolamos por volta de 10h45, antes de entrar a ventania que seguraria os demais pilotos na rampa por pelo menos duas horas. Antes do meio-dia fiquei no chão, na altura da copa das árvores, sendo recordado uma vez mais de como o voo é definido no detalhe. Samuel sempre no controle da situação, birutando térmicas e descendo em wing overs para se nivelar comigo.

O vento soprava bem de nordeste e alinhado. Com velocidades de solo entre 55 e 90 km/h, avançávamos bem apesar do meu ritmo lento de piloto enferrujado e abalado e das esperas do Samuel.

Seguimos bem até o km 180, quando a planície goiana resolveu respirar. Salvamos o dia numa roubada, hesitando entre ficar no zerinho ou avançar. Samuka sempre tomando a iniciativa de esticar, e eu navegando no Garmin para descobrir as cidades localizadas mais ou menos na nossa proa.

Finalmente encontrei Montividiu/GO, a 70 km, na reta de um cloud street que se formava exatamente na rota desejada. A 30 km da cidade, já dava o dia como finalizado. Tirei na frente, de tão incompetente que me sentia. Subia capim por toda a parte, mas não encontrava o miolo da térmica.

A dez quilômetros do recorde do Rafa, subimos numa térmica fraca mas constante. Decidimos, inicialmente, voar para a cidade, mas se formou um cloud street lindo à nossa direita, provavelmente efeito do pré-frontal. Daí um planeio de 50 km aos 300. E a alegria profunda de voltar a voar longe.

http://www.xcbrasil.com.br/flight/145551  (Samuka)

http://www.xcbrasil.com.br/flight/145618     (Oly)