Bivouac Goiás 2010
(Na foto: cruzando a linha do gol no Rio Araguaia)
Em 2005, juntamente com o Rodrigo (Slow), fiz o primeiro "ensaio" do que seria o Bivouac Goiás 2010. Naquele ano voamos do Vale do Paranã a Goianésia (180km); de Jaraguá a Israelândia (180km - somente o Rodrigo completou esta perna); e de Iporá a Registro do Araguaia (115km). Não foi um "bivouac" estrito senso porque não pousamos perto das decolagens que se seguiam na rota, possibilitando assim conectar todos os vôos em um só "track" e comprovar que, ao menos em princípio, seria possível fazer a totalidade do caminho sem apoio do carro.
Nos anos seguintes, os pilotos de Brasília fizeram do bivouac uma tradição anual. Reuníam-se a cada mês de setembro para cruzar o Estado de Goiás em parapente. Grandes vôos foram feitos, e vários recordes pessoais caíram. O bivouac ficou estabelecido como ponto alto da temporada.
Na verdade, nem mesmo o bivouac que é capaz de conectar todos vôos em um único "track" é um "bivouac" propriamente dito. Isto porque nos valemos dos carros para um suporte logístico mínimo. Um bivouac "puro" não permite ao piloto qualquer deslocamento motorizado. Mas o "espírito" da iniciativa é o mesmo: viajar grandes distâncias em parapente.
Objetivo no vôo
Tenho dito que a temporada de 2010 será lembrada como a "temporada azul". Foram poucos os dias com abundância de cumulus. Não fiz nenhum vôo longo em que não tenha coberto grandes trechos no azul. Some-se a isto a pouca intensidade do vento, que também tem girado sobremaneira ao longo da rota. Essas características da temporada de 2010 estão refletidas nos vôos relativamente curtos: meu melhor vôo este ano, de 225 km, foi praticamente igual ao de 2005 (221 km, de Omega 6).
Após inúmeros vôos no azul, não tinha mais ânimo para voar. E a tentação do churrasco e da cerveja gelada na beira do rio bate sempre firme à nossa porta. O projeto do bivouac permitiu recuperar o objetivo do vôo. Mesmo voando em condições sub-ótimas, tínhamos que chegar à próxima decolagem.
A expedição ficou dividida assim (distâncias em linha reta):
Vale do Paranã - Dois Irmãos - 130 km
Dois Irmãos - Jaraguá - 90 km
Jaraguá - Morro dos Macacos (Iporá) - 200 km
Morro dos Macacos (Iporá) - Barra do Garças - 150 km
Total: 570 km
(Efetivamente voados ao longo da rota foram 638 km sem interrupção nos tracks.)
Não terei a paciência de relatar vôo por vôo aqui. Mas o Bivouac Goiás 2010 novamente comprovou que o resultado final de um vôo acaba sendo definido por detalhes. Por ao menos cinco vezes na totalidade do trajeto, estive muito perto de pousar ou de desistir do vôo. A primeira vez foi logo na saída, quando o Rodrigo Zatz e eu ficamos baixos no asfalto. Logo em seguida, ensaiamos um vôo para Cocalzinho, onde não sabíamos se encontraríamos uma decolagem apta. Neste momento, estive a ponto de desistir da expedição. Mas o vento virou quase noventa graus, o que acabou permitindo voar a Dois Irmãos, depois de fazer um grande "U" na rota.
A rota Dois Irmãos-Jaraguá, a mais curta, acabou sendo a mais difícil de completar. A decolagem em Dois Irmãos é um venturi, em que o vento acelera muito. Saímos subindo reto e avançando precariamente. Ficamos no chão logo após a primeira térmica. Salvei o dia num córrego, a 50m de altura. Novamente estive praticamente pousado numa roubada a 40km de Jaraguá. E para complicar, peguei vento contra nos últimos 15km, espremendo a chegada à rampa no sotavento e voltando no caudal para pousar no centro da cidade.
Jaraguá novamente mostrou todo seu potencial, com vários pilotos voando seus recordes pessoais. Num vôo sem maiores dificuldades, cheguei alto à decolagem de Iporá, bati pilão e segui sentido Barra do Garças para fechar 225km. A partir do km 150, peguei uma autovia de "cloudstreets" para compensar as tantas horas voadas no azul.
No último dia havia a opção de voar à rampa de Miltolândia (200km) e de lá seguir o bivouac, fechando mais de 700km em linha reta no caso de êxito. Mas já estávamos muito cansados, e a tríplice tentação rio-cerveja-churrasco voltou a bater à porta. Além disso, voar a Barra do Garças permitiria fechar a rota com chave de ouro pousando no Rio Araguaia.
Mais uma vez o vôo foi decidido no detalhe. No km 30, fiquei no chão, derivando por cerca de 10km no liquidificador de um sotavento, que não me deixava subir. Depois de recuperar-me, fiz todo o vôo bem distante da GO-060 (a rodovia do resgate), voando sobre extensas fazendas na monotonia do interminável azul. Finalmente avistei o Rio Araguaia na distância, catei uma última térmica numa queimada e fiz o planeio final ao Mato Grosso.
Bivouac Goiás 2011
Alvorada-Vale do Paranã - 130km
Vale do Paranã-Dois Irmãos - 130km
Dois Irmãos-Jaraguá - 90km
Jaraguá-Morro dos Macacos (Iporá) - 200km
Iporá-Miltolândia - 200km
Miltolândia - ? - 200km
Total 950km